Manaus é a porta de entrada para o exuberante universo da selva amazônica


Um dia de turista na selva começa com a companhia de um papagaio no café, bicando suco e destroçando frutas na mesa. Segue com caminhada guiada na mata, dali a pouco um macaquinho pula no colo, depois tem passeio de barco e pescaria e, à noite, mais bichos: focagem de jacarés e novamente os sons e cheiros da floresta. Manaus é a porta de entrada ideal para quem busca aventuras amazônicas com segurança -por falar em segurança, não se esqueça da vacina contra a febre amarela.

A exuberância do lugar, de sua fauna e flora, ocupa páginas de enciclopédias. Também remete à infância, às primeiras aulas de geografia, em que se descobre que o rio Amazonas tem tamanho e importância colossais.

Quantas outras paisagens são tão exclusivamente brasileiras quanto o encontro das águas dos rios Negro e Solimões? Talvez meia dúzia: o Pão de Açúcar, os Lençóis Maranhenses... As cores amarela e negra, que recusam a mistura imediata na formação do mais extenso e volumoso rio do mundo, estão entre os cartões-postais da América do Sul.

"Ainda hoje, quando viajo pelo rio Negro, digo sem nenhum bairrismo: é uma das paisagens mais belas do mundo. E olha, tem tanta história ali..." Quem elogia é um manauara da gema, o romancista Milton Hatoum.

Seus livros compõem uma fabulosa iniciação à história multicultural, de europeus, índios e caboclos, e ao clima (quente e úmido) da capital do Amazonas.

Manaus é uma cidade grande, de trânsito complicado, com 1,7 milhão de habitantes. Entre as principais atrações da zona urbana estão o Teatro Amazonas, sede de um importante festival anual de ópera, o Museu do Índio, o Centro Cultural dos Povos da Amazônia e, claro, a região do porto. Ali o rio Negro se exibe com porte de mar, de tão largo. Em alguns trechos, chega a 23 km, de uma margem a outra.

Do porto partem viagens curtas e longas --para Belém, por exemplo, dura quatro dias-- e também cruzeiros em um barco-hotel cinco estrelas, nos rios Negro e Solimões.

A metrópole que viveu tempos de opulência durante o ciclo da borracha oferece aos visitantes confortos como os shopping centers e a chance de escolher entre seis ou oito tipos de refrigerante de guaraná, em qualquer supermercado. Como vitamina, misturado a saborosas frutas regionais como o cupuaçu, o pó de guaraná ajuda a não sucumbir ao calor. Mas a capital também se mostra inóspita quando, a duas quadras do cinturão turístico do Teatro Amazonas, deixa acumular pilhas de lixo nas calçadas, da manhã à noite.

A experiência de um 'hotel de selva' precisa ser incluída na viagem, pelo menos como 'day use', o que vários deles oferecem. Nestes lodges, a diversidade da floresta está ao alcance da mão, e os sons noturnos não incluem buzinas de automóveis ou TV, apenas pássaros, sapos e insetos. Os pacotes incluem as refeições e a companhia de guias, alguns de origem indígena, sempre generosos na hora de compartilhar os segredos da mata.

Generosos e corajosos: na procura por jacarés, à noite, os guias se dispõem a segurar os bichos (pequenos, naturalmente) para que os turistas apalpem a pele, observem de perto a dentadura, o rabo, as patas. Não raro um engraçadinho resume a aventura: "Parece uma carteira!"

Hotéis de selva também proporcionam um contato diuturno com os rios. Os rios comandam a vida na região. Transporte, alimentação, lazer, festas, tudo depende das rotas na água. No livro 'Á Sombra dos Igapós', o cronista Waldir Garcia descreve uma Festa do Divino de cores amazônicas: a canoa grande, que leva a Coroa do Divino, dá a volta no rio soltando cascas de laranja-da-terra embebidas em azeite de andiroba que, incandescentes com o fogo, formam uma trilha aquática luminosa. Dá para imaginar a beleza, e o perfume da cena.

A floresta oferece riscos. Ainda que raros, os acidentes em trilhas guiadas podem ser graves. Cobras venenosas não são convidadas, mas podem aparecer. Quando as agências recomendam tênis ou botas, em vez de sandálias, mais meias e mangas compridas, é bom seguir à risca. Uma picada de marimbondo não mata, mas produz uma dor paralisante, que um ungüento retirado de árvores ou um óleo de copaíba saído do bolso do guia vão rapidamente amenizar, para que o passeio não se interrompa.

Procurado mais por estrangeiros do que brasileiros, o turismo na selva amazônica vê chegarem cada vez mais grupos da terceira idade. Alguns caminham devagarzinho, com bengalas, e carregam as mochilas com dificuldade. Nada que diminua a adrenalina de conhecer um lugar tão exótico. Na hora de andar de cipó, os mais velhos são os primeiros da fila. As crianças estão lá atrás, preocupadas com os riscos da queda ou a sujeira nas mãos.

Ao ouvir dos garçons o protocolar 'volte sempre', dói pensar que vai ser difícil por conta da distância. E a sensação que fica é a de que a primeira visita não deveria ter demorado tanto.

Comentários